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TITUBA, o nome que chegou até nós

Atualizado: 9 de fev. de 2021

Você sabia que, se não fosse pelo romance de Maryse Condé, "Eu, Tituba: bruxa negra de Salem", a chance de conhecermos esse nome poderoso - "Tituba" - seria baixíssima?




Apesar de ter sido a primeira condenada nos célebres julgamentos de Salem, em 1o. de março de 1692, os registros oficiais apenas apontam mínimas referências a ela. Nos registros históricos dos julgamentos conduzidos ela é referida apenas como uma mulher indígena ("an Indian Woman") ou ainda como uma indígena escrava do senhor Samuel Parris ("an Indian Woman servant, of mr Sam'l parris") - lembrando que o "Indian" aqui se refere-se às colônias das Índias Ocidentais. Nada mais sabemos dela: idade, origem, traços da vida, sua vida após a condenação, sua morte, sua descendência (se houve).


Na verdade, é apenas a narrativa de Maryse Condé, publicada em 1986, que dá voz a essa "bruxa" condenada que não teve voz.





Daí a importância de lermos essa fabulação cujo título é a afirmação da primeira pessoa: "Eu, Tituba". Quando digo eu, posso contar minha história, dizer quem sou, fui e serei. Condé se comunica com a voz de Tituba, que ecoa de outro plano, e oferece sua descendência e sua pena como o suporte de sua existência. Ela fabula quem Tituba foi, é e será. Assim, Tituba não foi ignorada, sua condenação foi revista e uma biografia atenta e inspirada recriou sua vida e seus tormentos.



Se não podemos repetir o "Eu" de Tituba, apropriarmo-nos de sua voz, podemos, assim como o narrador o faz insistentemente, repetir o nome Tituba. Isso significa que ela existiu e que honramos sua existência ao afirmar seu nome, fazê--lo circular. Por isso que o repetimos aqui: a fim de que o guardemos, o salvemos da injustiça do apagamento. Levemos adiante conosco, em nossas bocas, leituras. Salvemos da morte.



 

http://salem.lib.virginia.edu/n125.html Nesse link você acessa os SWP, Salem Witchcraft Papers, e pode ler os arquivos dos julgamentos de Salem, disponibilizados pela Universidade de Virginia. Para ler o depoimento de Tituba, acesse o documento 125. É desse documento pontual que Maryse Condé se serve para criar a narrativa.


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