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  • Foto do escritorcarolina bellocchio

Mar azul, leitura e releitura


A releitura de Mar Azul, da escritora Paloma Vidal, publicado em 2012, pela Editora Rocco, revelou-se um caso de amor.


A leitura ocorreu em 2016. A releitura, 2021.


A leitura, desafiadora, com inúmeras brechas que o leitora tinha que constantemente alinhavar, recuperar, dar-se ao desespero de não saber resolver. Caso típico de um texto de gozo - que nunca é típico, porque o gozo é sempre o diferente, o nunca repetido, portanto, nunca típico -, que noz inquieta, nos tira de nosso lugar de conforto. Barthes sempre à espreita.




A releitura, por sua vez, foi o lugar de reencontro com personagens, traços, indícios, imagens que já me eram absolutamente familiares, para meu surpreso espanto. Tantos elementos tinham ficado como negativo, como marca impressas na parede da memória, que refazer o percurso da leitura, com seus contínuos descontínuos, revelou-se quase memória minha. A narradora cujo nome desconheço confirmou-se muito próxima de mim, assim como os pombos que ela observa de sua privilegiada vista. O contorno do mar,, a duas quadras de distância, são também meu lugar de amparo. A piscina em que a narradora se sente liquefeita e protegida, pelos limites do corpo líquido da água e que a aproximam da mãe me liquefazem e me protegem.


A mãe que ela não conhece, e que inicialmente parecem gerar na narradora angústia, desconexão e desprendimento da vida, dificuldade de se amarrar e ancorar nas coisas e lembranças, aos poucos vão se tornando, na minha releitura, a confirmação inaudita do mar de que a origem (e a mãe) sempre esteve e sempre vai estar lá. A duas quadras, na piscina, no chuveiro. Na vida elementar e aquática em nós.




"Revertere ad locum tuum", escreve em seus cadernos o pai da narradora. Volta a teu lugar de origem. Ao mar, a leitura, a releitura: afinal, reler as mesmas linhas não é um modo de fazer o percurso do mar?

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