As lágrimas dos contos de Olhos d'agua, de Conceição Evaristo algumas vezes acalmam, purificam. Mas em sua maioria, as lágrimas ainda são dor, asfalto, lixo queimando, sufoco e medo, aperto, marquise, sabão pouco, sangue, veneno, interrupções.
A passagem acima é do conto "A gente combinamos de não morrer", quase um dos últimos da coletânea. A inadequação à norma culta da língua portuguesa, que indicaria o uso de ""Nós combinamos de não morrer!" ou "A gente combinou de não morrer!" como sentenças adequadas tanto para o título quanto para a frase repetida ao longo do conto, sinaliza a inadequação desse ser que a enuncia em relação à sociedade. Os personagens do conto estão à sua margem, em desacordo com condições mínimas de vida assim como estão fora do padrão linguístico que se coloca como desejável.
Os marginalizados, isto é, aqueles que estão à margem, seja dos direitos, dos tratamentos, são muitos em Olhos d'água. No seu fluxo de água, no correr dos contos, carregam-nos, tiram nosso fôlego e nos batizam na dor de um cotidiano que tem "diversos sentimentos", menos, talvez, de qualquer espectro de paz.
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