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  • Foto do escritorcarolina bellocchio

Lágrimas negras em "Olhos d'água", de Conceição Evaristo



As lágrimas dos contos de Olhos d'agua, de Conceição Evaristo algumas vezes acalmam, purificam. Mas em sua maioria, as lágrimas ainda são dor, asfalto, lixo queimando, sufoco e medo, aperto, marquise, sabão pouco, sangue, veneno, interrupções.


A passagem acima é do conto "A gente combinamos de não morrer", quase um dos últimos da coletânea. A inadequação à norma culta da língua portuguesa, que indicaria o uso de ""Nós combinamos de não morrer!" ou "A gente combinou de não morrer!" como sentenças adequadas tanto para o título quanto para a frase repetida ao longo do conto, sinaliza a inadequação desse ser que a enuncia em relação à sociedade. Os personagens do conto estão à sua margem, em desacordo com condições mínimas de vida assim como estão fora do padrão linguístico que se coloca como desejável.


Os marginalizados, isto é, aqueles que estão à margem, seja dos direitos, dos tratamentos, são muitos em Olhos d'água. No seu fluxo de água, no correr dos contos, carregam-nos, tiram nosso fôlego e nos batizam na dor de um cotidiano que tem "diversos sentimentos", menos, talvez, de qualquer espectro de paz.


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